De acordo com as denúncias, problemas surgiram depois que o comando da BLZ Recicla foi assumido pela Ambipar
Por Circe Bonatelli 08/03/2023 | 05h00
Empresa de gestão de resíduos comprou 51% da BLZ Recicla em 2022 Foto: Ambipar
O Ministério Público do Trabalho (MPT) abriu investigação para apurar denúncias de suposta prática de assédio moral contra trabalhadores da BLZ Recicla, empresa comprada pela Ambipar no ano passado. Os problemas surgiram depois que o comando foi assumido pela Ambipar, de acordo com as denúncias às quais o Broadcast teve acesso.
A BLZ Recicla fica em Araçariguama (SP) e atua na coleta, transporte, reciclagem e venda de garrafas de vidro. Todos os meses, a empresa movimenta aproximadamente 10 milhões de garrafas de vidro e 5 mil toneladas de cacos de vidro, com receita anual de R$ 100 milhões. O negócio virou referência do setor e atraiu os olhos da Ambipar, multinacional brasileira que levanta a bandeira da responsabilidade socioambiental e tem a ex-modelo Gisele Bündchen como protagonista seus comerciais sobre sustentabilidade.
Ambipar indicou diretor-geral
Em setembro, a Ambipar acertou a compra de 51% da BLZ Recicla, enquanto os 49% restantes ficaram com a JVMC Participações, holding fundadora da empresa de reciclagem. A BLZ foi absorvida pela Ambipar Environmental que, como sócia majoritária, indicou o diretor geral Marco Tulio Hoffman Andrade como responsável pelas operações.
Andrade promoveu uma série de demissões - prática recorrente em empresas abocanhadas por grupos maiores. Neste caso, foram cortados 67 de um total de 168 funcionários, o equivalente a 40% do quadro. Só na área administrativa foram 16 de 20.
A partir de meados de janeiro começaram a surgir as primeiras denúncias de funcionários contra Andrade nos canais internos da empresa e, depois, no Ministério Público do Trabalho. O Broadcast teve acesso a queixas que falam de um ambiente tóxico de trabalho. Segundo os funcionários, Andrade falava palavrões e proferia xingamentos no dia a dia, além de recorrentemente ameaçar demitir todos que não se submetessem aos seus mandos.
Denunciantes falam em xingamentos e ameaças
Um dos denunciantes (cujo nome será preservado pela reportagem) relatou: “No primeiro dia que esse senhor chegou na empresa, disse as seguintes palavras: ‘Eu vim para ficar e quem não prestar vai ser demitido’”. Em outro trecho conta: “Sofri ameaças de ser mandado embora praticamente todos os dias desde que esse senhor chegou na fábrica”.
Outro denunciante relatou que: “(o diretor) não tinha respeito, nem educação. Obrigava a fazer ações que constrangiam os funcionários. ‘Mandava fazer hora extra ou era demitido’. Chamava todos da produção de burros e vagabundos.”
Um terceiro relatou ter sido demitido sem aviso prévio, sem justificativa e via mensagem de WhatsApp vinda de uma pessoa que não era sua gestora. “Não foram explicados os motivos da demissão, se ocasionados por questões de desempenho, disciplina ou qualquer outro fato”, disse.
MPT recebeu quatro queixas
Ao todo, houve seis denúncias nos canais internos e quatro queixas no Ministério Público do Trabalho. O órgão público confirmou à reportagem a abertura de investigação para o levantamento de provas e a averiguação da veracidade das denúncias de assédio. O caso está no início e ainda não começou a ser instruído.
A Ambipar foi questionada pela reportagem sobre qual o motivo das demissões em massa, como está conduzindo a investigação sobre assédio, como acolheu os funcionários denunciantes e se já teve uma conclusão dos fatos. Também foi perguntada sobre a permanência de Andrade no cargo enquanto as denúncias são analisadas. A Ambipar não concedeu entrevista e informou por e-mail o seguinte: “A companhia está em processo de apuração dos fatos, e portanto, não tem nada a declarar”. A sócia minoritária, JVMC, também foi procurada e respondeu que não vai comentar.
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