Em 2023, apenas 7,45% do total de resíduos tinham potencial de reciclagem – e ainda assim nem todos foram reaproveitados
JBR - Vítor Mendonça - 21/05/2024 6h15 - Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília
A separação do lixo doméstico e o descarte correto são essenciais para uma reciclagem efetiva e cada vez mais eficiente. No Distrito Federal, uma pesquisa do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) indica que, do total das 711 mil toneladas de lixo produzidas ao longo do ano de 2023, apenas 7,45% eram resíduos sólidos secos ou recicláveis, cerca de 53 mil toneladas.
Das 53 mil toneladas de resíduos secos e recicláveis, porém, nem tudo foi reciclado. Houve o aproveitamento de aproximadamente 42% a 87% do material que foi recolhido pelo SLU e pelas cooperativas parceiras do órgão. Na triagem dos resíduos recolhidos e levados para galpões especializados, a contaminação dos materiais com substâncias orgânicas é grande.
São papelões e papéis engordurados ou sujos com orgânicos, isopores não separados devidamente, entre outros. O material não aproveitado segue para o Aterro Sanitário de Brasília (ASB), localizado em Samambaia, mesma destinação do lixo orgânico recolhido em caçambas, papa-lixos e outros pontos de coleta espalhados pelo DF.
Apesar de não ser passível de ir para a reciclagem, com o reuso do mesmo material para outros fins, os resíduos orgânicos tiveram outro tipo de reaproveitamento. De acordo com o SLU, foram produzidas 81.566 toneladas do Composto Orgânico de Lixo (COL), usado como adubo. “Por isso, a autarquia destaca a importância da conscientização de cada cidadão ao separar os resíduos recicláveis dos orgânicos”, disse a pasta em nota.
O processo de educação ambiental é demorado, mas necessário, de acordo com o gestor ambiental, Fernando Yuri. O especialista em resíduos sólidos destaca que aproximadamente 70% do que uma pessoa produz de lixo em média por dia, cerca de 1,5 kg a 1,8 kg, é passível de ser reciclado – os outros 30% são rejeitos orgânicos, ou molhados.
“Percebemos que esses 70% não são reintroduzidos dentro da cadeia do reciclável. Existe uma perda muito grande e há muito material que poderia estar gerando [por meio do trabalho de catadores e colaboradores de cooperativas] trabalho, renda, reinserção social, preservação ambiental e desenvolvimento econômico. O que é reaproveitado ainda é muito pouco dentro da capacidade que temos”, destacou o especialista.
O material reciclável que não é considerado útil para o reaproveitamento é chamado de material sujo, por estar contaminado, ainda que tenha sido separado. “Pode estar contaminado com fezes de animais, é um material que às vezes pode estar contaminado com lixo de banheiro ou que vai com uma fralda descartável ou absorvente”, expôs. “É uma situação muito preocupante porque poderíamos estar desenvolvendo muito mais.”
Ele ressalta que aquilo que não retorna à rota produtiva, produzindo uma economia circular, é destinado para o aterro sanitário.
“A educação e a mobilização socioambiental são o cerne para que a gente consiga ter uma transformação na sociedade, em que todos os resíduos sólidos consigam ter um aproveitamento e uma reintrodução novamente no ciclo de vida [uso do material], para que seja reciclado.”
Fernando Yuri
Segundo Fernando, com uma boa educação ambiental, cada cidadão poderá, além de fazer sua parte na separação do lixo doméstico, também disseminar conhecimento a respeito do descarte adequado de cada tipo de lixo. Há um perigo, conforme explicou, de impactos muito negativos para a população caso não seja feita a separação correta dos resíduos sólidos.
Cenas como as vistas no Rio Grande do Sul, por exemplo, conforme explica o especialista, podem acontecer com maior facilidade se não houver engajamento da comunidade, uma vez que “a coleta seletiva diminui a potencialidade de desastres ambientais e mudanças do clima”. “Com pequenos hábitos a gente consegue transformar a nossa sociedade”, afirmou.
“Vai chegar um momento em que não teremos mais locais para poder criar aterros sanitários. […] A criação de novas áreas, além de trazer um impacto negativo para o espaço, o deslocamento dos resíduos para os novos locais podem tornar o serviço mais caro [com elevação de gastos com combustível e operação]”, disse. “Precisamos ter uma coleta seletiva eficiente.”
Descarte correto
“Fazer a separação correta do lixo é uma tarefa simples. Ao lidar com resíduos secos, que incluem materiais como papel, plástico, vidro e metais, é importante limpar o excesso de conteúdo dos recipientes antes de descartá-los. Isso evita a contaminação com restos de alimentos ou outros materiais de origem orgânica”, destacou o SLU.
Também é importante estar atento aos dias e horários das coletas que acontecem nas Regiões Administrativas do DF, tanto a coleta seletiva quanto a convencional, que ocorrem em períodos distintos. Para saber quando e onde as equipes irão passar para fazer o recolhimento do material, é possível verificar as informações dentro do aplicativo SLU Coleta DF ou pelo site do órgão.
No aplicativo, é possível ver onde estão os pontos de coleta mais próximos e ainda acompanhar a localização em tempo real do caminhão que está responsável pelo recolhimento do lixo nas diferentes RAs.