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A economia circular como um negócio inteligente, não só como medida de responsabilidade ambiental

A economia circular como um negócio inteligente, não só como medida de responsabilidade ambiental

A mineração no Chile está trabalhando em uma meta de longo prazo para ser mais sustentável

Bnamericas - Publicado: segunda-feira, 13 março, 2023

A mineração no Chile está trabalhando em uma meta de longo prazo para ser mais sustentável, que também está incluída em diretrizes estatais como a Política Nacional de Mineração até 2050, para incentivar a indústria a adotar modelos de economia circular, e a Lei 20.920 de responsabilidade estendida do produtor (REP), que exige o uso eficiente de recursos e o reaproveitamento de resíduos.

Em resposta a essas novas demandas, a empresa estatal de cobre Codelco se comprometeu a reciclar 65% de seus resíduos industriais não perigosos e 100% de seus pneus até 2030.

No setor privado, a Antofagasta Minerals desenvolve uma iniciativa que considera a produção de aço para esferas de moagem a partir de pneus retirados de seus caminhões Caex na Minera Los Pelambres, enquanto a subsidiária local da australiana BHP busca soluções de energia limpa que visam a circularidade no transporte de pessoas.

É claro que ainda há um longo caminho a percorrer para implementar mais medidas desse tipo na mineração. Enquanto isso, especialistas apontam que parte do problema se deve à falta de conhecimento para traçar estratégias melhores nesse sentido.

Para entender as chaves dessa tendência, a BNamericas conversou com Emilio de Giacomo, sócio-fundador da Aurys Consulting, empresa especializada em otimização de processos e circularidade nas organizações, em especial na mineração.

BNamericas: A que se referem os princípios da economia circular?

De Giacomo: Eles estão relacionados com a sustentabilidade empresarial. Hoje trabalhamos com recursos cada vez mais escassos, e a circularidade pode quebrar paradigmas na forma de fazer negócios. A rigor, busca fazer mais com menos.

A economia circular não é apenas uma questão ambiental ou de reciclagem. Também aborda questões econômicas e até mesmo sociais e comunitárias. As empresas devem procurar minimizar ou eliminar o desperdício em todos os seus processos, não só no final da cadeia.

BNamericas: Um estudo da Aurys indicou que a mineração é um dos setores industriais que mais adotou a circularidade no Chile.

De Giacomo: A mineração tem assumido um papel de destaque nessa questão, e não apenas para cumprir a legislação local, mas também para atender a exigências internacionais que exigem novos parâmetros, como os princípios ESG.

O setor está mais sensível ao tema, e as novas gerações estão entrando nas empresas com esses conceitos internalizados, o que gera um efeito de alavanca. No entanto, no estudo, vimos que o progresso ainda está em uma fase inicial.

BNamericas: Quais são as leis que incentivam práticas de economia circular no Chile?

De Giacomo: Um dos gatilhos foi a Lei 20.920 de REP, criada em 2016 e que no ano passado incluiu requisitos para a responsabilidade dos resíduos. Isso envolve fornecedores e mineradoras, que demonstram não só disposição para cumprir, mas também para caminhar em direção à máxima expressão possível da circularidade.

BNamericas: Como incorporar a economia circular?

De Giacomo: Primeiro, integrando a circularidade nas estratégias de negócios onde os desafios de sustentabilidade e os princípios ESG também são abordados. Ali, o impacto e os benefícios devem ser medidos no nível ambiental, econômico e comunitário, inclusive com o nível de ambição de onde queremos chegar. Muitas vezes as empresas começam com ações, fazendo com que as pessoas não entendam o porquê dessas ações.

Segundo, a execução das iniciativas. Aqui é preciso ter métricas para observar o nível de avanço, que está relacionado ao desempenho e às ações sistemáticas para alcançar melhorias nos processos, por exemplo, por meio de mudanças na gestão de resíduos ou na área de suprimentos.

Em terceiro lugar, os facilitadores. É preciso ter pessoas, e isso começa com sensibilização e capacitação.

BNamericas: Quais são as áreas mais críticas quando se trata de resíduos de mineração?

De Giacomo: Rejeitos e depósitos de lixo. É preciso avançar em processos de extração mais seletivos e precisos, bem como no maior reaproveitamento de água por meio de rejeitos com menor teor de água. Outros resíduos são pneus de caminhões, aço, madeira, plástico etc., que hoje são, sem dúvida, a principal fonte onde se pode trabalhar de maneira mais pragmática.

BNamericas: Como a circularidade pode atuar para reduzir as emissões?

De Giacomo: O processo envolve a revisão dos processos e a incorporação de tecnologias para gerenciar métricas, relatórios e eletrificação para reduzir a pegada de carbono e minimizar os resíduos. A circularidade é um processo sem fim. As melhorias e a incorporação de tecnologias devem continuar ocorrendo ao longo do tempo.

BNamericas: Quais mineradoras confiaram na Aurys?

De Giacomo: Trabalhamos com Antofagasta Minerals, Codelco, Collahuasi, Anglo American, Glencore, Compañía Minera del Pacífico, etc. Nosso papel é a articulação estratégica e a gestão de iniciativas. Sabemos que os problemas da mineração estão cada vez mais complexos, por isso trabalhamos com diversos especialistas. Diferentes visões são necessárias para encontrar a solução.

BNamericas: A economia circular pode começar com as ações diárias dos trabalhadores?  

De Giacomo: A circularidade não se restringe às quatro paredes da empresa, mas se baseia no comportamento das pessoas. O resultado será mais positivo se o trabalhador estiver atento aos conceitos. Uma das nossas iniciativas hoje é reduzir as garrafas de plástico, que não parte de como o plástico é reciclado, mas de como eliminá-lo. A mudança de hábitos das pessoas transcende as empresas, é preciso gerar um círculo virtuoso.

BNamericas: Existe uma falta de conscientização sobre os benefícios da circularidade?

De Giacomo: Sim. Ao adotar a circularidade concentrando-se na melhor gestão do desperdício, em fazer as coisas de modo mais eficiente, usar a menor quantidade possível de recursos e gerar a menor quantidade de trabalho e impacto nos processos, é possível obter benefícios nos negócios. Talvez as pequenas e médias mineradoras possam ter lacunas na gestão ou execução dos processos, mas, se incorporarem essas práticas, vão gerar mais valor.

BNamericas: A gestão dos recursos hídricos é um desafio para a mineração. Quais práticas você recomenda?

De Giacomo: Um aspecto importante é como fechar o circuito de água, ou seja, como eliminar ou minimizar as perdas de água, utilizando a mesma quantidade do recurso. Ele está relacionado com a eficiência nos sistemas de produção. A grande quantidade de água requerida pela mineração está sendo resolvida com usinas de dessalinização ou com água do mar não dessalinizada, dependendo do processo. Mas conceitos de eficiência devem ser aplicados, minimizando a extração, pensando também em ver a solução como uma combinação de soluções.

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