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Cemitérios de carros exigem plano de reciclagem veicular

Cemitérios de carros exigem plano de reciclagem veicular

Brasil não sabe o que fazer com a sua frota em fim de vida, com riscos ao meio ambiente; apenas 1,5% é reciclado adequadamente

Sem legislação federal abrangente, a maioria dos municípios apenas recolhe carros abandonados

 

 

 


Folha de São Paulo - 12.nov.2025 às 22h00 - Renato de Sá Teles

Quem caminha por bairros de São Paulo ou de outras grandes cidades brasileiras conhece a paisagem da negligência: carros que um dia simbolizaram mobilidade agora apodrecem nas ruas. Essas carcaças são mais que entulho —são monumentos de uma crise silenciosa. O Brasil não sabe o que fazer com sua frota em fim de vida. Além de ocuparem espaço público, esses "cemitérios a céu aberto" representam riscos à saúde, à segurança e ao meio ambiente.

Em 2023, foram produzidos 2,3 milhões de veículos novos e a frota nacional superou 115 milhões, segundo Anfavea e Sindipeças. O dado mais alarmante é o envelhecimento: a idade média dos automóveis chegou a 10,9 anos, a maior já registrada. Com a crise econômica e o alto custo dos novos, prolongam-se o uso dos veículos.


Carro abandonado em rua de São Paulo - Rivaldo Gomes - 6.nov.2019/Folhapress
Quando deixam de rodar, apenas 1,5% deles são reciclados adequadamente, segundo o Sindinesfa (sindicato do comércio de sucata); os 98,5% restantes somem na informalidade, alimentando desmanches clandestinos e a poluição urbana. O setor formal de reciclagem, que movimenta cerca de R$ 2 bilhões anuais, poderia ser muito maior com uma política nacional séria.

O abandono traz alto custo. Segundo a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), carcaças acumulam água e viram criadouros do Aedes aegypti, além de contaminarem solo e lençóis freáticos. A degradação urbana desvaloriza imóveis e aumenta a sensação de insegurança —reflexo da "teoria das janelas quebradas", segundo a qual sinais de desordem estimulam a criminalidade.

Outros países mostram caminhos. No Japão, uma lei obriga fabricantes e consumidores a dividirem responsabilidades: paga-se uma taxa de reciclagem na compra, e as montadoras recolhem componentes. Na União Europeia, 95% do peso de um veículo precisa ser reaproveitado, e só é possível dar baixa com certificado emitido por centro licenciado.

No Brasil, iniciativas são pontuais. A "Lei dos Desmanches" do Rio Grande do Sul (lei 12.745/2007) credencia desmontes e cria rastreabilidade digital, reduzindo furtos e aumentando a segurança da cadeia. Sem legislação federal abrangente, a maioria dos municípios apenas recolhe carros abandonados, sem resolver a causa do problema.

Uma política nacional deve se apoiar em três eixos: responsabilidade estendida do produtor, com taxa ambiental para financiar coleta e reciclagem; incentivo à cadeia formal, com crédito verde, certificação e rastreabilidade; e desburocratização do processo de baixa definitiva e remoção legal dos veículos abandonados.

No país que sedia a COP30, é imperioso lembrar que a reciclagem veicular reduz emissões, pois metais e plásticos reciclados consomem até 95% menos energia que a extração de matéria-prima. Uma política nacional seria sinal concreto de compromisso climático e criaria empregos verdes, promovendo uma transição justa e recuperando áreas degradadas. Ignorar o tema seria um contrassenso. O futuro sustentável do Brasil começa limpando as ruas e dando destino adequado ao que hoje apodrece nelas.

 

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