O estudo revela que, mesmo quando o consumidor separa corretamente o material, ele não entra no ciclo de reciclagem por questões como composição de multicamadas, pigmentação que impede a triagem, ausência de padronização na rotulagem ou simplesmente por não haver demanda comercial
Diário do Rio - Por Redação Diário do Rio - 11 de setembro de 2025
O selo “reciclável” estampado em muitas embalagens pode esconder uma dura realidade: grande parte desses plásticos não tem valor de mercado, não é reaproveitada e acaba em aterros, lixões ou no meio ambiente. Essa é a principal conclusão da pesquisa Catadores por Menos Plástico, conduzida pelo Instituto de Direito Coletivo (IDC) em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF), que acompanhou, por várias semanas, o trabalho de 20 cooperativas de catadores no estado do Rio de Janeiro. O levantamento mostrou que 64% de todo o rejeito separado nessas cooperativas era composto por plásticos sem reciclabilidade real.
O estudo revela que, mesmo quando o consumidor separa corretamente o material, ele não entra no ciclo de reciclagem por questões como composição de multicamadas, pigmentação que impede a triagem, ausência de padronização na rotulagem ou simplesmente por não haver demanda comercial.
Segundo Tatiana Bastos, presidente do IDC, o problema é estrutural e exige ação urgente: “Os catadores fazem o trabalho mais pesado da reciclagem e ainda ficam com o pior da cadeia. É injusto responsabilizar apenas o consumidor, quando a indústria continua colocando no mercado embalagens que nunca serão recicladas. A reciclagem justa começa no design e na responsabilidade de quem produz.”
A pesquisa já gerou resultados concretos: serviu de base para o Projeto de Lei nº 5392/2025, apresentado pelo deputado estadual Carlos Minc e atualmente em tramitação na Alerj. A proposta prevê que, em até cinco anos, embalagens não recicláveis sejam banidas do mercado fluminense, que haja rotulagem correta e transparente, e que os catadores recebam pagamento direto pelos serviços ambientais que prestam.
Como parte da mobilização, o IDC está lançando a campanha pública “Não é só plástico — é rejeito, é injustiça!”, com o objetivo de conscientizar a população, pressionar empresas e fortalecer políticas públicas. A ação inclui um webinar sobre logística reversa, impactos nos catadores e obrigações das empresas, além de ampla divulgação nas redes e canais institucionais.
O IDC reforça que o combate ao greenwashing e a criação de uma economia circular justa dependem de mudanças na produção, e não apenas no descarte. “A reciclagem só é verdadeira se for possível na prática. O que temos hoje é um sistema que transfere custos para quem menos pode arcar com eles, enquanto as marcas lucram com embalagens poluentes”, afirma Tatiana Bastos.