Misturar diferentes tipos de materiais, na chamada de fluxo único, gera contaminação e parte dos plásticos, por exemplo, nunca terá uma segunda vida
O que acontece com o seu lixo depois da reciclagem?
Toda semana, milhões de americanos jogam seus materiais recicláveis em uma única lixeira, confiando que suas garrafas plásticas, latas de alumínio e caixas de papelão ganharão uma nova vida.
A reciclagem de fluxo único facilita a participação na reciclagem. Mas, nos bastidores, sistemas complexos de triagem e contaminação fazem com que uma grande porcentagem desse material nunca tenha uma segunda vida. Relatórios dos últimos anos constataram que de 15% a 25% de todos os materiais coletados de lixeiras de reciclagem acabam em aterros sanitários.
Os plásticos estão entre os maiores desafios. Apenas cerca de 9% do plástico gerado nos EUA é realmente reciclado, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental (EPA). Parte do plástico é incinerada para produzir energia, mas a maior parte do restante acaba em aterros sanitários.
Então, o que torna a reciclagem de plástico tão difícil?
COMO FUNCIONA A RECICLAGEM DE FLUXO ÚNICO?
Em cidades que utilizam a reciclagem de fluxo único, os consumidores colocam todos os seus materiais recicláveis — papel, papelão, plástico, vidro e metal — em uma única lixeira. Uma vez coletados, os recicláveis mistos são levados para uma unidade de recuperação de materiais, onde são separados.
Primeiramente, os recicláveis mistos são triturados e novamente triturados em fragmentos menores, permitindo uma separação mais eficaz. Os fragmentos misturados passam por peneiras rotativas que removem papelão e papel, permitindo que materiais mais pesados, incluindo plásticos, metais e vidro, continuem pela linha de triagem.
Ímãs são usados para separar metais ferrosos, como aço. Um campo magnético que produz uma corrente elétrica com vórtices envia metais não ferrosos, como alumínio, para um fluxo separado, deixando para trás plásticos e vidro.
Os fragmentos de vidro são removidos da mistura restante por gravidade ou peneiras vibratórias. Isso deixa o plástico como o principal material restante.
Embora a reciclagem de fluxo único seja conveniente, ela tem desvantagens. Contaminação, como resíduos de alimentos, sacolas plásticas e itens que não podem ser reciclados, pode degradar a qualidade do material restante, dificultando sua reutilização. Isso reduz seu valor.
A necessidade de remover essa contaminação aumenta os custos de processamento e pode forçar os centros de reciclagem a rejeitar lotes inteiros.
PLÁSTICOS NÃO PODEM SER RECICLADOS
Nos Estados Unidos, cada programa de reciclagem possui regras para quais itens serão ou não aceitos. Quem vive no país pode verificar quais itens podem ou não ser reciclados para o seu programa específico na página da sua prefeitura. Muitas vezes, isso significa verificar o código de reciclagem estampado no plástico ao lado do ícone de reciclagem.
Estes são os plásticos mais difíceis de reciclar e com maior probabilidade de serem excluídos do seu programa local de reciclagem:
Símbolo 3 – Cloreto de polivinila, ou PVC, encontrado em canos, cortinas de chuveiro e algumas embalagens de alimentos. Pode conter aditivos nocivos, como ftalatos e metais pesados. O PVC também se degrada facilmente e, ao derreter, pode liberar gases tóxicos durante a reciclagem, contaminando outros materiais e tornando-o inseguro para processamento em instalações de reciclagem padrão.
Símbolo 4 – O polietileno de baixa densidade, ou PEBD, é frequentemente usado em sacos plásticos e embalagens retráteis. Por ser flexível e leve, é propenso a se enroscar em máquinas de triagem em usinas de reciclagem.
Símbolo 6 – Poliestireno, frequentemente usado em copos de isopor, recipientes para viagem e isopor. Por ser leve e quebradiço, é difícil de coletar e processar e contamina facilmente os fluxos de reciclagem.
QUAIS PLÁSTICOS INCLUIR
Isso deixa três plásticos que podem ser reciclados em muitas instalações:
Símbolo 1 – Polietileno tereftalato, ou PET, amplamente utilizado em garrafas de refrigerante.
Símbolo 2 – Polietileno de alta densidade, ou PEAD, comumente usado em jarras de leite e garrafas de sabão em pó.
Símbolo 5 – Polipropileno, PP, usado em produtos como frascos de comprimidos, copos de iogurte e utensílios de plástico.
No entanto, estes não são aceitos em algumas instalações por motivos que explicarei.
UMA AULA DE QUÍMICA
Alguns plásticos podem ser reciclados quimicamente ou triturados para reprocessamento, mas nem todos os plásticos funcionam bem juntos.
Métodos simples de separação, como colocar plástico triturado em água, podem remover facilmente o plástico da sua garrafa de refrigerante (PET) da mistura. O PET triturado afunda na água devido à densidade do plástico. No entanto, o PEAD, usado em jarras de leite, e o PP, encontrado em copos de iogurte, flutuam e não podem ser reciclados juntos. Portanto, tecnologias mais avançadas e caras, como a espectroscopia de infravermelho, geralmente são necessárias para separar esses dois materiais.
Uma vez separado, o plástico da sua garrafa de refrigerante pode ser reciclado quimicamente por meio de um processo chamado solvólise.
Funciona assim: os materiais plásticos são formados a partir de polímeros. Um polímero é uma molécula com muitas unidades repetidas, chamadas monômeros. Imagine um colar de pérolas. As pérolas individuais são as unidades monoméricas repetidas. O fio que atravessa as pérolas é a ligação química que une as unidades monoméricas. O colar inteiro pode então ser considerado uma única molécula.
Durante a solvólise, os químicos quebram esse colar cortando o fio que mantém as pérolas unidas até que se tornem pérolas individuais. Em seguida, eles encadeiam essas pérolas novamente para criar novos colares.
Outros métodos de reciclagem química, como pirólise e gaseificação, têm gerado preocupações ambientais e de saúde porque o plástico é aquecido, o que pode liberar gases tóxicos. Mas a reciclagem química também tem o potencial de reduzir o desperdício de plástico e a necessidade de novos plásticos, além de gerar energia.
COPOS DE IOGURTE E EMBALAGENS DE LEITE
Os outros dois tipos comuns de plásticos reciclados — itens como copos de iogurte (PP) e embalagens de leite (PEAD) — são como óleo e água: ambos podem ser reciclados por meio de reprocessamento, mas não se misturam.
Se o polietileno e o polipropileno não forem completamente separados durante a reciclagem, a mistura resultante pode ser quebradiça e geralmente inutilizável para a criação de novos produtos.
Químicos estão trabalhando em soluções que possam aumentar a qualidade dos plásticos reciclados por meio do reprocessamento mecânico, normalmente realizado em instalações separadas.
Um método mecânico promissor para reciclar plásticos mistos é incorporar um produto químico chamado compatibilizante. Os compatibilizantes contêm a estrutura química de vários polímeros diferentes na mesma molécula. É como a lecitina, comumente encontrada na gema do ovo, que pode ajudar a misturar óleo e água para fazer maionese — parte da molécula de lecitina está na fase oleosa e parte na fase aquosa.
No caso de potes de iogurte e garrafas de leite, copolímeros em bloco recentemente desenvolvidos são capazes de produzir materiais plásticos reciclados com a flexibilidade do polietileno e a resistência do polipropileno.
APRIMORANDO A RECICLAGEM
Pesquisas como esta podem tornar os materiais reciclados mais versáteis e valiosos, aproximando os produtos da meta de uma economia circular sem desperdício.
No entanto, melhorar a reciclagem também requer melhores hábitos de reciclagem.
Você pode ajudar no processo de reciclagem dedicando alguns minutos para lavar os restos de comida, evitando colocar sacolas plásticas na lixeira de reciclagem e, principalmente, prestando atenção ao que pode e não pode ser reciclado em sua região.
RECICLAGEM NO BRASIL
Segundo a Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), a estimativa é de que existam em operação mais de 2.800 lixões no país. O número é bem maior do que apontado pelo Sistema Nacional de Informações em Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades, que aponta 1.572 lixões a céu aberto no país e 598 aterros irregulares. Em 2023, essas espaços inadequados receberam 16,3 milhões de toneladas de lixo.
Os dados vão na contramão do que prevê a regulamentação brasileira. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei nº 12.305, de 2010, determinou a data de 2 de agosto de 2024 como limite para a erradicação dos lixões no Brasil. No entanto, isso não foi colocado em prática.
Uma das razões seria a falta de recursos do poder público. Estudo feito pela GO Associados em 2022, a pedido do governo federal, mostrou que são necessários investimentos de R$ 27 bilhões para alcançar a universalização do manejo de resíduos sólidos e liquidar os lixões.
Enquanto os lixões seguem como problema no Brasil, a falta de reciclagem é outra questão que não mostra avanços. O país recicla 4% do lixo, aponta a Abrema. No entanto, a notícia positiva é que, de acordo com a associação, o volume de lixo reciclado no país subiu de 3,5% para 8% de 2022 para 2023 (dados mais recentes). COM FAST COMPANY BRASIL